Principais conceitos da Gestalt Terapia

A Gestalt terapia é um modelo psicoterápico com ênfase na responsabilidade de si próprio, na experiência individual do momento atual (aqui e agora), no relacionamento terapeuta-consulente e na autorregulação e ajustamento criativos do indivíduo, levando em conta sempre o meio ambiente e o contexto social, que constituem o ser de um modo geral.

Seus criadores foram Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman entre as décadas de 1940 e 1950. Seu divulgação se deu através da publicação do livro Gestalt-Theraphy em 1951.

Os Conceitos:

1. Agressividade: A função da agressão para a GT: origina-se no que ele chamou de “agressão dental”: morder, tirar pedaços e mastigar a própria experiência absorvendo o que lhe é necessário e livrar-se do que não precisa. A agressão é colocada de forma positiva, serve tanto para a preservação de si mesmo como para contatar o ambiente. A agressão nos habilita arriscar a ter um impacto no nosso mundo, e nos liberta para sermos criativos ou produtivos.

Freud vinculava a agressão ao sadismo e ao instinto de morte, e Perls não podia concordar com isso.  Para ele, a personalidade sadia é formada na idiossincrasia de sins e nãos “, no sim e no não consistem todas as coisas” quando as pessoas não podem dizer sim tão livremente quanto podem dizer não, tendem a aceitar acriticamente uma visão da realidade ou um modo de vida ditado por outros. A ausência do não era causada pela repressão da agressão dental, devido ao medo do conflito, que para Perls era a gênese da patologia neurótica. Não a agressão mas a sua inibição que produz a impotência, explosões de violência, dessensibilização e embotamento. (Ref.: livro Ego, Fome e agressão. F. Perls).

2. Aqui-Agora – segundo a G.T. tudo está contido no agora, apresenta uma concepção de tempo, que não é a do tempo linear, trabalha com a idéia de presente e passado presentificados. Todas as “gestalten inacabadas” estão de certa forma “prontas” para emergir no aqui-agora do momento vivido. Logo, não perguntamos “- Porque é que você está se comportando desta maneira? “Mas sim: “- O que é que está fazendo? “, “- Como é que faz?” , “-O que é que está fazendo comportar-se desta maneira? “. Ref.: livro 11, pág. 65. O contato com o mundo é baseado na consciência sensorial ( ver, ouvir, tocar). Logo, só podemos ver, ouvir e tocar no presente. Daí, aqui-agora é onde a consciência sensorial acontece: no presente. Ref.: livro 14, pág. 3 “No agora, você usa o que está disponível, e é obrigado a ser criativo. Observe crianças brincando, o que estiver disponível será usado, e então alguma coisa acontece, alguma coisa surge do seu contato com o aqui e agora.” Ref.: livro 2, pág. 77

A intervenção do psicólogo nesta abordagem também é centrada na atualidade, no que emerge, no que está acontecendo – podemos perguntar “o que se passa aqui-agora?”  e não porquê. Por isso se trabalha a partir de uma atitude descritiva, por exemplo: solicitar que o paciente descreva o que sente, como pensa, como vê e assim por diante, assim estaremos ajudando-o a tornar-se mais consciente de si.

3.Ansiedade: “…é a excitação, o élan vital que carregamos conosco, e que se torna estagnado se estamos incertos quanto ao papel que devemos desempenhar.” Ref.: livro 2, pág. 15

“A ansiedade é o vácuo entre o agora e o depois” Ref.: livro 2, pág. 15-52. Ref.: livro 13, pág 134. Também é o produto do impedimento de viver plenamente a excitação. Ref.: livro 2, pág. 95. “Se a excitação não puder fluir para a atividade por intermédio do sistema motor, então procuramos dessensibilizar o sistema sensorial para reduzir a excitação”. “Pensar é ensaiar em fantasia para o papel que tem de ser desempenhado na sociedade. E quando chega o momento do desempenho e não está seguro sobre se a atuação será bem recebida, então sobrevém o pânico do palco. A esse pânico do palco foi dado pela psiquiatria o nome de ansiedade.” Ref.: livro 11, pág. 30/31.

4. Auto-apoio/ autonomia: é passar do apoio ambiental para o auto-apoio, seria uma não dependência com relação a  aprovação dos outros para tomar suas decisões e sem quem é. Ocorre quando “o comportamento é o desejo próprio”. “É a livre escolha, e tem sempre um sentido primário de despreendimento, seguido por um de compromisso. A liberdade é dada pelo fato de que o campo de novas escolhas foi alcançada: a pessoa se compromete de acordo com o que ela é, isso é, com o que se torna… sendo autônomo, o comportamento é o de sua própria escolha, uma vez que em princípio, tal comportamento já foi amadurecido, assimilado…” Ref.: livro 10, pág. 446.

“A teoria básica da gestalt-terapia diz que a maturação é um processo de crescimento contínuo, onde o apoio ambiental é transformado em auto-apoio. No desenvolvimento sadio, a criança mobiliza e aprende a usar seus próprios recursos. Um equilíbrio variável entre apoio e frustração, a capacita a tornar-se independente, livre para usar seu potencial inato.”Ref.: livro 14, pág. 33.

5. Auto-realização /Auto-regulação – tanto em termos de sistema nervoso como no que diz respeito ao organismo como um todo – não fazendo dicotomia subjetividade/corpo; enfim, observou-se que o sistema vivo tem uma capacidade de auto-organização e para que essa auto-organização se efetive, ele exerce uma auto-regulação. Dizendo de outro modo: todo o sistema vai se empenhar nessa organização de si a partir de uma auto-regulação. Esta auto-regulação vai estar a serviço de uma outra condição inata que o sistema vivo tem, que é de se auto-realizar, ou seja, ser tudo aquilo que ele pode ser em potência, desenvolver-se da melhor forma que puder dentro do contexto que vive.

6. Awareness – refere-se a capacidade de aperceber-se do que passa dentro e fora de si no momento presente nos três níveis simultaneamente: corporal, mental e emocional (embora uma ou outra zona possa se tornar figuro em dado momento).

É estado manter-se consciente de; estado de consciência a respeito  do que se passa, capacidade de estar no aqui-agora, cônscio das suas necessidades e das possíveis escolhas que podem ser tomadas, tanto em termos individuais como coletivo. “O objetivo ( da awareness) é o paciente descobrir o mecanismo pelo qual ele aliena parte dos processos do seu self e, assim, evita estar consciente de si e de seu ambiente… Um experimento típico ( da awareness) é pedir que os participantes formem uma série de sentenças começando com as palavras “aqui-agora eu estou consciente de…” Ref.: livro 34, pág. 78/79. “Este continuum de tomada de consciência parece ser muito simples; apenas tomar consciência do que se passa segundo após segundo… Entretanto, assim que a tomada de consciência se torna desagradável, ela é interrompida pela maioria das pessoas. Então, estas, repentinamente, começam a intelectualizar, usar palavreado do tipo blablablá, voar em direção ao passado…” Ref.: livro 2, pág. 78

7.Caráter (no sentido da couraça caracterológica de Reich): “é o conjunto de comportamentos motores e verbais expressos – os que são facilmente observáveis e verificáveis.” Ref. Livro 14, pág. 31. “O nós não existe por si só, mas se constitui a partir do eu e você e é um limite do intercâmbio onde duas pessoas se encontram. E quando nos encontramos lá, então eu mudo e você muda, através do processo de um encontro mútuo, a não ser que … as duas pessoas tenham um caráter . Uma vez que você tenha um caráter, você terá desenvolvido um sistema rígido. Seu comportamento se torna petrificado, previsível, e você perde a capacidade de lidar livremente com o mundo com todos os seus recursos. Você fica predeterminado a lidar com os fatos de uma única forma, ou seja, de acordo com o que seu caráter prescreve. Desta forma, parece ser paradoxal o fato de eu dizer que a pessoa mais rica, mais produtiva e criativa é a pessoa que não tem caráter. Na nossa sociedade exigimos que a pessoa tenha caráter, e especialmente um bom caráter, porque desta forma ela é previsível, pode ser classificada, e assim por diante…” Ref.: livro 2, pág. 21/22.

8. Ciclo de contato – contato/retraimento: é a teorização pela qual Perls se utilizou para pensar a forma como nos relacionamos. A priori nem todo contato é bom, nem toda fuga é negativa. Nenhum é bom ou mau em princípio, ambos são formas de enfrentamento. Quando se tornam patológicos? Temos que avaliar a situação em que ocorrem. Uma característica do neurótico é não poder fazer um bom contato, nem organizar sua fuga. O ideal seria conquistar um padrão rítmico conforme nossas necessidades, para isso é necessário a capacidade de discriminação. Os teóricos da gestalt, a título de estudo, dividem o contato em algumas etapas. Utilizaremos o referencial de J. Ponciano Ribeiro. Este autor descreve nove etapas do contato e para cada uma delas associa um mecanismo de defesa subjacente quando há interrupção. São elas nesta ordem de acontecimento: fluidez, sensação (desensibilização), consciência, mobilização de energia, integração, contato pleno, satisfação, retirada ou fechamento.

9. Consciência : “a consciência é sempre consciência de alguma coisa, ou seja, a consciência é intencionalidade “. Ref.: livro 12, pág. 11/21/34

10. Contato: “é esta conjunção articulada de motivação, percepção, afeto, cognição e ação.”. É um dos conceito central na Gestalt Terapia. A qualidade dos contatos vai determinar em grande parte o processo saúde/adoecimento. A formação de gestalten completas e abrangentes é a condição da saúde mental e do crescimento.

11. Continuum de consciência – seria uma filosofia de vida baseada na constante atenção (awareness) ao que se passa tanto consigo próprio quanto com o que se passa ao seu redor.

12. Culpa : “Na GT,… nós vemos a culpa… como um ressentimento projetado: sempre que você sentir culpa, descubra do que você se ressente, a culpa desaparecerá … “. Ref.: livro 2, pág. 73.    “Quando nos sentimos culpados, encontraremos um núcleo de rancor, de ressentimento.” Ref.: livro 11, pág.44.

13. Excitamento: parece ser um bom termo pois abrange a excitação fisiológica assim como emoções indiferenciadas. Inclui a noção freudiana de catexis e o élan vital bergsoniano, e nos dá a base para uma teoria simples da ansiedade.

14. Experimento :“episódio no qual se procura primeiramente, passo a passo e com a ajuda de pequenas intervenções e propostas por parte do facilitador, evidenciar mais claramente o conflito e os sentimentos envolvidos, para depois, buscar formas possíveis de sair do impasse por ele criado. Ref.: livro 15, pág. 103. O experimento é “… um ensaio ou observação especial feitos para provar ou descartar algo duvidoso, especialmente sob condições determinadas pelo observador, um ato ou operação realizados a fim de descobrir algum princípio ou efeito desconhecidos, ou, para testar, estabelecer ou ilustrar alguma verdade conhecida ou sugerida; teste prático; prova. ” Ref.: livro 34, pág. 78/79.

15. Figura e Fundo – Conceito central da teoria.

Ppercebemos as coisas de forma integrada, organizada, não percebemos os elementos de uma situação desordenados entre si. Esta lei é válida para qualquer percepção, mesmo as conceituais, pois o pensamento é um prolongamento da percepção, um não está subordinado ao outro. São apenas atributos diferentes do mesmo psiquismo. Na GT relacionamos a figura com a experiência do primeiro plano e o fundo. Ref.: livro 2, pág 90, com a perspectiva, com a situação que a compõe, o contexto.

O significado é a relação da figura em primeiro plano com o seu fundo. Os psicólogos gestaltistas propuseram a teoria de que a pessoa que percebe não era um simples alvo passivo para o bombardeamento sensorial originário do meio ambiente; mais propriamente, ela estruturava e impunha uma ordem às suas próprias percepções. Basicamente, ela organizava as percepções do fluxo sensorial recebido na experiência primária de uma figura sendo vista ou percebida contra um background, ou fundo. A figura poderia ser uma melodia, diferenciada de um fundo harmônico, ou poderia ser um padrão visual emergindo como uma entidade coerente contra um agrupamento de linhas estranhas. Uma figura, seja ela simplesmente perceptual ou consistindo de uma ordem de complexidade superior, emerge do fundo à maneira de um baixo relevo, avançando para uma posição que força uma atenção e que acentua as suas qualidades de limites e clareza.” Ref.: livro 36, pág. 44.

16. Fronteiras de contato : Tem a função básica de discriminar eu/mundo. Ref.: livro 14, pág.53.  “Não é tanto uma demarcação física, mas sim um conceito funcional que se refere à diferenciação e à interdependência dos elementos” Ref.: livro 15, pág. 49.  “A fronteira-do-eu ( fronteira do ego) de uma pessoa é a fronteira daquilo que é para ela contato permissível… Dentro da fronteira-do-eu o contato pode ser feito com facilidade e encanto, e resulta num confortável senso de gratificação e crescimento…. Na fronteira-do-eu, o contato se torna mais arriscado e a probabilidade de gratificação é menos certa… Fora da fronteira-do-eu, o contato é quase impossível… O modo pelo qual uma pessoa bloqueia ou permite a consciência e a ação na fronteira-do-contato é o seu modo de manter o senso dos seus limites. ” Ref.: livro 36, pág. 109.

17. Gestalt – Palavra de origem alemã que não tem tradução literal para a língua portuguesa. Tem o sentido de “forma”, de “figura”, de um sentido que emerge de um todo. O termo se generalizou no seu sentido mais amplo dando nome ao movimento. Tem sido usado na Gestalt terapia com o significado de configuração dinâmica e integrada. Este conceito remete ao modo como percebemos as coisas. A percepção de algo ou de uma situação se dá na sua totalidade e não dos elementos individualizados que a compõe. O sentido de algo é dado pela sua integração, ou seja, a relação entre as partes que compõe um todo é que vão dizer deste todo, e não por suas partes aleatórias.

Ex: consultório, hospital, sala de aula, etc. Quando visualizamos alguns desses locais sabemos de qual se trata tendo uma percepção global do lugar, que vai se dar pela relação existente entre as partes. A organização hospital, organização escola, cada uma tem uma configuração particular, assim como a vivencia que temos das coisas. A maneira como percebemos a realidade se dá a partir de “configurações de sentido”, cada situação vivenciada é uma gestalt.

18. Gestalt incompleta (ou situação inacabada): está ligada a idéia de uma situação que ficou em aberto, isso quer dizer, uma situação onde o contato foi interrompido em algum momento do processo. “Toda experiência fica suspensa até que a pessoa a conclui. A maioria dos indivíduos tem uma grande capacidade para situações inacabadas… Não obstante, embora se possa tolerar uma quantidade considerável de experiências inacabadas, estes movimentos não completados buscam um complemento e, quando se tornam suficientemente poderosos, o indivíduo é envolvido por preocupações, comportamentos compulsivos, cuidados, energia opressiva e muitas atividades autofrustrantes. Se você não xinga seu chefe no trabalho, mas gostaria realmente de fazê-lo, e então vai para casa e o faz com seus filhos, as probabilidades são de que isto não funcione porque é somente uma tentativa fraca ou parcial de terminar alguma coisa que de qualquer maneira ainda está suspensa, inacabada… Uma vez que a finalização foi alcançada e que pode ser experenciada plenamente no presente, a preocupação com o antigo não-completamento é resolvido e a pessoa pode caminhar para as possibilidades atuais.” Ref.: livro 36, pág. 49/50.  Gestalten : plural de gestalt, na língua original (alemão).

19. Impasse : ” é o ponto onde o apoio ambiental ou o obsoleto apoio interno não é mais suficiente, e o auto-apoio autêntico ainda não foi obtido”. Ref.: livro 2, pág. 50. “No núcleo de cada neurose está o que os russos chamam de ponto doente… Na GT chamamos este ponto de impasse”. Ref.: livro 14, pág.34. “O impasse existencial é a situação em que nenhum suporte ambiental promove avanço e o paciente é, ou acredita ser, incapaz de lidar com a vida por conta própria.” Ref.: livro 34, pág.78.

20. Insight : “… é uma formação de padrão do campo perceptivo, de uma maneira tal que as realidades significativas ficam aparentes; é a formação de uma gestalt na qual os fatores relevantes se encaixam com respeito ao todo.” Ref. Livro 34, pág.16.  “O insight, uma forma de awareness, é uma percepção óbvia imediata de uma unidade entre elementos, que no campo aparentam ser díspares.

21. Indiferença Criativa: termo cunhado por Sigmund Friedlaender ( Perls tinha-o como um de seus três gurus, (“com ele aprendi o significado de equilibrio, do centro zero dos opostos. O  segundo é Selig escultor e arquiteto do instituto Esalen, e meu último guru foi Mitzie “uma linda gata branca que me ensinou a sabedoria do animal” Ref.: livro 37, pág71.  Friedlaender era o filósofo do nada, seu trabalho filosofico  “Creative Indifference” teve tremendo impacto sobre fritz, postula que qualquer coisa se diferencia em opostos, se somos capturados por uma dessas forças opostas, estamos numa cilada, ou pelo menos desequilbrados, se ficarmos no nada do centro-zero estamos equilibrados e temos perspectiva.

22. Intuição: É a inteligência do organismo. Ref.: livro 2, pág.42.

23. O todo e as partes – isso significa uma integração de partes em oposição à soma do “todo”. O todo é mais que a soma das partes, ou seja, o todo não é mera soma das partes. Estas partes formam um todo dinâmico, integrado e interdependente. Ex: as notas que formam a melodia, isto é, a melodia é um todo organizado e não a soma das notas que a compõe

24. Neurose : “pode ser definido como a incapacidade de assumir total identidade e responsabilidade pelo comportamento maduro. ( O Neurótico) faz tudo para se manter no estado de imaturidade, mesmo quando faz papel de adulto – isto é, seu conceito infantil de como o adulto é. O neurótico não se concebe como uma pessoa que se mantém sozinha, capaz de mobilizar seu potencial para lidar com o mundo. Procura apoio do meio através de ordens, ajuda, explicações e respostas. Não mobiliza seus próprios recursos e sim maneiras de manipular o meio – impotência, adulação, estupidez e outros controles mais ou menos sutis – de forma a receber apoio. ” Ref.: livro 14, pág. 32.  Perls diz: ”… considero a neurose um sintoma de maturação incompleto”… “um neurótico é incapaz de enxergar o óbvio. Ele perdeu os sentidos.” Ref.: livro 9, pág. 38.  Neurose “é a fixação em um passado imutável”. Ref.: livro 10, pág. 438. Perda da função Ego ou da personalidade: a escolha da atitude adequada é difícil ou desadaptada. Ref.: livro 16, pág. 128. É uma psicopatologia consistindo em camadas. As camadas da neurose, segundo Perls, são: 1ª camada: Desempenho de papéis, 2ª camada: implosiva que leva ao impasse. Medo de ser. 3ª camada: Explosiva ( explosão de amor sensual, raiva, alegria ou tristeza) 4ª camada: Viver autêntico. Ref.: livro 14, pág. 40/41.  Comportamento Neurótico implica na “manipulação dos outros em vez de crescer sozinho”. Ref.: livro 9, pág. 33.

25. Polaridade : Segundo a GT, todo o evento tem dois pólos que permitem que o diferenciemos. “… se quisermos ficar no centro do nosso mundo,… seremos ambidestros – então veremos os dois pólos de todo evento. Veremos que a luz não pode existir sem a não-luz. A partir do momento em que existe igualdade, não se pode mais perceber. Se sempre existisse luz, vocês não experienciariam mais a luz. Deve haver um ritmo de luz e escuridão.” Ref.: livro 2, pág. 35.

26. Ponto cego (ou escotoma)destruição mágica do que queremos evitar, éum substituto de uma catexia negativa. Ref. livro 13, pág.35. Há pessoas que literalmente não vêem o que não ‘querem’ ver, não ouvem e não “sentem” determinados sentimentos. A imagem que podemos fazer é a de que tem “buracos” em determinadas partes do corpo, ou seja, partes cuja sensibilidade encontra-se perturbada.

27. Processo : “é uma mudança ou uma transformação em um objeto ou organismo, na qual uma qualidade consistente ou uma direção podem ser discernidas. Um processo é sempre, em algum sentido, ativo; algo está acontecendo. Ele contrasta com a estrutura ou a forma de organização daquilo que muda, cuja estrutura é concebida para ser relativamente estática, a despeito da mudança processual.” Ref.: livro 34, pág. 203

28. Psicose : “A psicose seria, sobretudo, segundo Goodman, uma pertubação da função “id” : a sensibilidade e a disponibilidade do sujeito às excitações externas ( perceptivas) ou internas ( proprioceptivas) são perturbadas: ele não responde claramente ao mundo exterior nem às suas próprias necessidades. Ele está cortado da realidade: nele não há mais ajustamento criador do organismo ao meio.” Ref.: livro 16, pág. 128.

29. Resistência: Em “Ego, fome e agressão” Perls já apontava que a origem delas é oral, o que representa uma pequena mudança na ênfase psicanalítica – esse artigo encontrou reprovação quando apresentado no congresso da Tchecoslováquia.

A psicanálise clássica considerava que a origem das resistências era anal, por volta dos dois/três anos as crianças dizem não a tudo. Segundo Melanie Klein e seus seguidores isso era a evidencia da natureza bárbara da criança, “que precisa ser domada para se moldar e se transformar em comportamento civilizado. Já Erick Ericson colocava esse período sob um prisma positivo dizendo que o controle do esfíncter anal era indicio de possibilidade de conquista de maior autonomia.

A mudança da recusa anal para a oral, opera uma nova concepção, de que a criança tanto pode dizer não como sim! Tanto pode se rebelar como se acomodar livremente. A boca surge como o lugar em que a criança se relaciona com o mundo: o lugar de comer, mastigar, degustar, mais tarde possibilita a linguagem e é as vezes o lugar de amar também (Perls ainda não tinha formulado o conceito de fronteira de contato, só mais tarde com ajuda de Goodman, mas a idéia já estava plantada aqui).

A aquisição de dentes põe a criança num outro patamar de relacionamento, agora não recebe o alimento passivamente, ela o tritura, rasga, sente o paladar se multiplicar pela diversidade de alimento e consistências. Começa a discriminar o que gosta e o que não gosta, “ao tornar-se critica da experiência a criança forma uma personalidade individual” (pág. 22)

Perls entendia que a introjeção responsável pela pelo aprendizado da criança pode ser a partir do nascimento dos dentes, acrescida da autodeterminação. Para Perls apoiar a “criança para que vá além da introjeção nessa fase não é consigná-la ao barbarismo, é respeitar o processo natural, autoregulador de crescimento sadio”. (22)

30. Saúde doença: Segundo Delhlefsen e Dahlke (1998), toda doença é como uma tentativa do organismo de ser ouvido, decifrado e compreendido, trazendo um novo aprendizado sobre si mesmo. A sabedoria do organismo elege uma parte do seu todo para revelar algo de si.

31. Self – na GT é ele quem exerce a função do contato, o complexo sistema de contatos necessários para o ajustamento nas dificuldades do meio. É composto pelas seguintes estruturas: Id, Ego e Personalidade.

Id: fundo (de ordem molecular, corporal, pulsional, as gestalten abertas, necessidades).

Ego: quem se identifica com as figuras e se aliena de outras, quem age.

Personalidade: a imagem que vai sendo criada pelas escolhas que vou fazendo para meu crescimento. auto imagem. Não é uma entidade, mas um processo, é através dele que nos retraímos ou estabelecemos contato. Ele seria o administrador, o que vai “resolver” o funcionamento da hierarquia de necessidades, com suas catexias negativas e positivas (investimentos).

32. Self suport – Devido a imagem positiva do ser humano, a GT parte do princípio de que cada ser humano possui o equipamento necessário para poder enfrentar a vida. Para tanto só precisa se conscientizar de suas forças. Geralmente quando a pessoa busca ajuda, ela não conta com esse suporte, muitas vezes não tem a mínima noção das suas possibilidades e nem uma visão clara do que já construiu na vida. Deve ser um dos objetivos da terapia possibilitar self suport ao paciente, ou seja, oferecer meios para que ele possa desenvolver e utilizar seus recursos para resolver seus problemas de forma satisfatória. Cada situação difícil “resolvida” torna a próxima solução mais fácil. Há um fortalecimento a cada obstáculo vencido – a força emocional vem daí (resumindo: seria reconhecer as necessidades e descobrir os meios de supri-las).

33. Simbolismo dos sonhos recurso, segundo Miller (1997), poderá também ser compreendido como uma forma que o self encontrou para representar.

34. Suporte : “O suporte refere-se a qualquer coisa que possibilite o contato ou o afastamento: energia, suporte corporal, respiração, informação, preocupação com os outros, linguagem e assim por diante. O suporte mobiliza recursos para o contato ou para o afastamento. Por exemplo, para dar suporte à excitação que acompanha o contato, a pessoa precisa ingerir oxigênio suficiente.” Ref.: livro 34, pág. 18.

35. Teoria de Campo : “Características do campo: 1. um campo é uma teia sistemática de relacionamentos, 2. um campo é contínuo no espaço e no tempo, 3. tudo é de um campo, 4. os fenômenos são determinados pelo campo todo, 5. o campo é uma fatalidade unitária: tudo no campo afeta todo o resto.” Ref.: livro 34, pág. 184.

O campo é definido como:”Uma totalidade de forças mutuamente influenciáveis que, em conjunto, formam uma fatalidade interativa unificada”. Ref.: idem, pág. 185. O espaço entre o self e o outro não é um vácuo, como na maioria das abordagens psicológicas. A experiência se desdobra em um campo, parecido com um campo elétrico, carregado de premências, a vontade, necessidades, preferências, anseios desejos, julgamentos e outras expressões e manifestações do ser. O contato entre duas pessoas não é, por exemplo, uma colisão entre duas estruturas neurobiológicas internas ou hábitos e crenças condicionados ou um ego, id e superego…

36. Teoria Paradoxal da Mudança : “… consiste nisto: a mudança ocorre quando uma pessoa se torna o que é, não quando tenta converter-se no que não é”. Ref. livro 11, pág. 110. “… a mudança pode ocorrer quando o paciente abandona, pelo menos de momento, aquilo em que gostaria de se tornar e tenta ser aquilo que é. A premissa é que a pessoa deve permanecer em seu lugar, a fim de ter um terreno firme para se deslocar, e que é difícil ou impossível qualquer movimento sem essa base sólida.”Ref.:idem, pág.111.

37. Top dog/Under dog : conflito interno entre dominador (top dog) e dominado (under dog). “O dominador (Top dog) pode ser descrito como exigente, punitivo, autoritário e primitivo. Ele manda continuamente com afirmações do tipo: ” Você deveria”,”Você precisa”, ” Por que você não”… O dominado (Under dog) desenvolve uma grande habilidade em fugir das ordens do dominador. Normalmente, com a intenção de concordar apenas parcialmente com o dominador, ele responde: ” Sim, mas…”, “estou tentando muito, mas da próxima vez farei melhor” e “amanhã…”. Ref.: livro 14, pág. 24. “O dominador geralmente se julga com a razão e é autoritário; ele sabe mais… o dominado manipula sendo defensivo, desculpando-se, seduzindo, representando o bebê-chorão ou coisa parecida. ” Ref.: livro 2, pág. 35/36.

38. Tomada de consciência – é o sentido que se dá ao trabalho terapêutico, de uma constante tomada de consciência, realizado no sentido de desenvolver uma capacidade discriminatória cada vez mais clara a medida em que as gestalten vão sendo fechadas – seria o conscientizar-se.

39. Zona de contato – O contato “é a conjunção articulada de motivação, percepção, afeto, cognição e ação.”

zona interna: diz respeito a relação conosco mesmos, com as percepções que temos com relação ao “si” que compreendem percepções subjetivas (estados de espírito) e objetivas como sede, fome, dor em alguma parte do corpo, etc.

zona intermediária: envolve a imaginação, o pensamento, a cognição.

zona externa: é o entorno, tudo o que envolve aquilo que percebemos como o que está fora de nós. Todas aquelas condições do ambiente que nos afetam de alguma forma. Vai desde as condições atmosféricas até o mais sutil signo: um olhar, gestos, o significado que damos as coisas.  Esta zona compreende então o ambiente e os outros.

 

Referências Bibliográficas

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28: Dychtwald, K. – CORPOMENTE , São Paulo:Summus, 1984
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31: Fiorini, H. J. – TEORIA E TÉCNICA DE PSICOTERAPIAS , Rio de Janeiro:Francisco Alves,10a. ed.,1993
32: Fiorini, H. J. e Peyrú, G. M. – DESENVOLVIMENTOS EM PSICOTERAPIAS , Rio de Janeiro:Francisco Alves,1978
33: Gillierón, E. – AS PSICOTERAPIAS BREVES ,Rio de Janeiro: Zahar
34: Yontef, Gary M. – PROCESSO, DIÁLOGO E AWARENESS , São Paulo:Summus, 1998
35: Zinker, J. – EL PROCESO CREATIVO EN LA TERAPIA GUESTALTICA , Buenos Aires:Paidos, 1a. ed., 1979
36: Polster, Erving & Miriam – GESTALT TERAPIA INTEGRADA, Belo Horizonte:Interlivros, 1a. ed., 1979

37. Perls, Frederick. ESCARAFUNCHANDO FRITZ, DENTRO E FORA DA LATA DO LIXO, São paulo: Summus, 1979.

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