A prática de psicoterapeuta é uma atividade tão gostosa quanto a de um astronauta. A cada novo paciente são novos desafios e modos de ver e enfrentar o mundo.
Hoje, quero falar sobre a Anorexia, que é, de acordo com os manuais da psicologia e psiquiatria: “um distúrbio alimentar que provoca uma perda de peso acima do que é considerado saudável para a idade e altura. Pessoas com anorexia podem ter um medo intenso de ganhar peso, mesmo quando estão abaixo do peso normal. Elas podem abusar de dietas ou exercícios, ou usar outros métodos para emagrecer”.
A grande maioria das meninas que sofrem de sintomas anoréxicos apresentam um comportamento interessantíssimo em termos clínicos, que vai além dos conflitos na família de origem, chegando a uma angústia de ter de crescer, que é o gerador dos sintomas.
Elas querem ficar magras e delicadas como modo de enviar uma mensagem de que não são capazes de se tornar grandes, de enfrentar o mundo. Para essas pacientes, se tornar adultas é angustiante, porque elas são incapazes de assumir a responsabilidade por sua sexualidade, a gestão de cada campo da existência que envolve prazer, e a vida como um todo.
Entretanto, se formos analisar, as meninas quase sempre são capazes de lidar com os deveres, muitas vezes são boas na escola, e são descritas pelos pais como as “pequenas grandes mulheres” desde os 5 ou 6 anos. Mas quando chega a pré-adolescência e o corpo começa a dar sinais de crescimento e receber uma nova identidade sexual, em seguida, começa o medo e a tentativa, claramente patológica de controlar a sua evolução. Esse comportamento de privar-se dos alimentos ou peso em geral, se torna uma arma poderosa para não crescer e controlar o comportamento dos pais, na busca de toda a atenção, como quando era pequena.
Quando tratamos de questões a nível psicológico, temos que entender o que aquele sintoma quer nos dizer, e não como ele se mostra. Por isso, não é com uma dieta de engorda que o problema será resolvido, mas quando forem tratadas as inabilidades de lidar com a realidade que esse sujeito apresenta.
A psicoterapia ajuda a paciente a enxergar os comportamentos e pensamentos disfuncionais que causam o quadro, além de buscar estratégias para o seu desenvolvimento físico e psicológico. Ainda, remove um pouco do peso sobre a família, que geralmente se sente impotente e sobrecarregada para lidar com esse tipo de situação.